20120310 BKP001 0 300x168 As razões por trás dos fracassos econômicos

"Why Nations Fail" analisa os motivos que impedem que países prosperem. Foto: AFP

Países fracassam porque seus líderes são gananciosos egoístas que ignoram a história.

Os problemas e desigualdades do mundo rico têm ocupado as manchetes há algum tempo. No entanto, uma história mais importante para o bem-estar humano é a persistência das lacunas entre ricos e pobres do mundo. Ajustada para o poder aquisitivo, a renda média norte-americana é 50 vezes maior do que a de um afegão típico e cem vezes maior que a de um zimbabuano. Apesar de dois séculos de crescimento econômico, mais de um bilhão de pessoas permanecem na pobreza extrema.

Esse enigma exige respostas ambiciosas. No final dos anos 1990, Jared Diamond e David Landes enfrentaram frontalmente as questões mais inquietantes: por que a Europa descobriu o crescimento econômico moderno e porque é a sua propagação é tão limitada? Agora, Daron Acemoglu, um economista do MIT, e James Robinson, professor de gestão pública em Harvard, seguem seus passos com Why Nations Fail (Por que as Nações Falham). Eles desprezam as histórias culturais e geográficas de seus antepassados em favor de uma abordagem centrada somente na economia institucional, que estuda o impacto do ambiente político nos resultados econômicos. Nem a cultura nem a geografia podem explicar as lacunas entre as cidades vizinhas nos Estados Unidos e no México, argumentam os autores, para não falar das disparidades entre as Coreias do Sul e do Norte.

Ao invés disso, a dupla oferece um diagnóstico impactante: alguns governos erram de propósito. Em meio a instituições fracas e acolhedoras, há pouco para desencorajar um líder, e evitar que ele pilhe a nação. Tais ambientes direcionam a produção da sociedade para uma elite parasitária, desestimulando o investimento e a inovação. Instituições extrativistas são a norma histórica. Instituições inclusivas protegem os direitos individuais e incentivam os investimentos e os esforços. Onde os governos inclusivos emergem, o resultado é grande riqueza.

O Reino Unido, berço da revolução industrial, é a principal prova desta teoria. Pequenas diferenças medievais no absolutismo dos monarcas ingleses e espanhóis foram amplificadas pelo acaso histórico. Quando a exploração europeia começou, a coroa britânica, mais restrita, deixou o comércio nas mãos dos corsários, enquanto a Espanha defendeu o controle do Estado sobre o comércio nos oceanos. As riquezas do Novo Mundo solidificaram a tirania espanhola, mas nutriram uma elite comerciante no Reino Unido. Seus membros ajudaram a inclinar a balança contra a monarquia na Revolução Gloriosa de 1688 e contrabalançaram a aristocracia rural, garantindo o pluralismo e plantando as sementes do crescimento econômico. Dentro de um sistema robusto o suficiente para tolerar a destruição criativa, a engenhosidade britânica (não muito diferente da inventividade francesa ou chinesa) estava livre para florescer.

Este acidente de sorte não foi facilmente replicado. Na América Central e do Sul, exploradores europeus encontraram populações densas maduras o suficiente para a pilhagem. Eles construíram Estados de exploração. Colônias britânicas na América do Norte, pelo contrário, eram um péssimo território para instituições extrativistas, as populações indígenas eram muito dispersas para serem escravizadas. Governadores coloniais utilizaram incentivos de mercado para motivar os primeiros colonos na Virgínia e em Massachusetts. Reformas políticas tornaram crível a concessão dos direitos econômicos. Onde o pluralismo se arraigou, a indústria norte-americana e a riqueza prosperaram. Onde ele faltou, nas colônias escravocratas do Sul, o resultado foi um longo período de atraso econômico. Um século depois da guerra civil norte-americana, o Sul segregado permaneceu pobre.

Domínios de exploração são autorrevigorantes. No Novo Mundo espanhol, o saque deu mais poderes à elite. Revolução e independência raramente fornecem uma alternativa a essa tirania. A nova liderança luta contra as tentações de manter os benefícios do sistema antigo. Economias inclusivas, pelo contrário, incentivam a inovação e a renovação. Isto desestabiliza as indústrias existentes, e mantém o poder econômico e político disperso.

* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.