terça-feira, 10 de março de 2015

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Brasil pode deixar de ser credor externo
O Brasil está prestes a perder a condição de credor externo líquido, menção dada a países que possuem ativos em moeda estrangeira superiores ao tamanho da dívida externa. Nos últimos anos, o volume das dívidas tomadas no exterior por empresas e pelo governo aumentou de forma significativa.
Enquanto isso, as reservas internacionais administradas pelo Banco Central (BC) — uma espécie de seguro do país para enfrentar choques globais — vêm caindo mês a mês. Dito de outra forma, o cobertor que poderia cobrir o buraco externo está ficando curto. E, se a tendência persistir, ainda em 2015 o Brasil pode deixar de ser considerado credor.
Dados levantados pelo Correio com base em estatísticas do BC dão a dimensão desse problema: Em 2011, no primeiro ano de mandato da presidenta Dilma Rousseff, as reservas internacionais superavam em 18% a dívida externa bruta. Essa proteção até aumentou nos dois anos seguintes, sobretudo por causa do comportamento ameno do dólar.
Desde o ano passado, porém, a situação mudou. Em 2014, a relação caiu para 7%. Em janeiro passado, as reservas eram apenas 6% maiores que a dívida externa — o menor patamar em quatro anos.
Uma outra conta, também do BC, traz um resultado ainda pior, de 3,8%. Nela, são considerados, além das reservas, também os dólares emprestados aos bancos, que, futuramente, voltarão para os cofres públicos, por meio de operações de recompra de moeda no mercado futuro (leilões de swap). 
Caso as reservas fiquem abaixo da dívida, o país voltará a ser considerado devedor externo líquido. “Não quer dizer que o mercado se fechará para o Brasil, mas, certamente, piora bastante a nossa imagem lá fora num momento de elevadas incertezas sobre a nossa capacidade de retomar o crescimento interno e de superar os problemas como a corrupção no lastro da Operação Lava-Jato”, disse o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC).
Outro problema é que as empresas brasileiras provavelmente deverão pagar mais caro para tomar empréstimos lá fora. Uma péssima notícia para a Petrobras, que possui uma dívida bilionária em moeda estrangeira e já perdeu o grau de investimento conferido por agências de classificação de risco. “Perder o selo de credor externo, na atual conjuntura, só deve piorar as coisas para a Petrobras e para o Brasil”, disse Monica Baumgarten de Bolle, pós-doutora em economia pela London School of Economics, da Inglaterra.

PRESSÃO
Alcançada em fevereiro de 2008, a marca de credor externo foi considerada um divisor de águas. Na época, o país parecia vencer uma dependência crônica de capitais que, durante décadas, levou a economia a incontáveis crises. O feito também possibilitou que o Brasil recebesse o grau de investimento das agências de classificação de risco — as mesmas que agora ameaçam rebaixar o país para a categoria especulativa.
Não é para menos. A situação de bonança alcançada há sete anos em nada lembra o quadro atual de total pressão sobre as contas externas. Em 2014, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) ladeira abaixo, as transações do país com o resto do mundo ficaram no vermelho em US$ 91,3bilhões— o pior desempenho em 13 anos.
A boa notícia é que a alta do dólar, apesar de tornar a dívida externa mais cara, ajuda a reduzir o buraco nas transações correntes. Isso porque, com o real mais desvalorizado, a tendência é que as exportações melhorem, e que as importações percam força. “O câmbio está mais perto do equilíbrio. Daqui para a frente, as contas externas tendem a melhorar gradualmente”, mencionou o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e sócio fundador da Mauá Sekular, Luiz Fernando Figueiredo.
Em 2015, mesmo com a economia no atoleiro (em média, os analistas financeiros projetam que o PIB deverá recuar 0,5%), o buraco nas contas externas ainda deverá ser extenso, de US$ 83,5 bilhões, diz o BC.
 
Fonte: Deco Bancillon | Correio Braziliense.

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